quarta-feira, 24 de março de 2010

Cidadania - 3º Ano

O texto a seguir serve para todos os 3ºs Anos do Alfredo cardoso, João Guidotti e Mello Ayres.

Ele foi retirado do caderno do professor do Estado de São Paulo e nos auxiliará nas discussões.

O QUE É CIDADANIA

A noção que temos hoje de cidadania não pode ser reduzida a uma concepção plenamente formada e válida para todos os contextos sociais que a adotam. Ela comporta variações, contradições e se encontra em permanente reconstrução. Desse modo, a importância de colocá-la dentro de uma perspectiva histórica está justamente na possibilidade de perceber as mudanças, a releitura e reapropriações que a cidadania teve em diferentes momentos, por diferentes povos, ao longo do tempo. Atualmente, toda e qualquer pessoa tem o direito à cidadania? Nas sociedades ocidentais, esse direito sempre foi o mesmo para todas as pessoas?

Origem das palavras “cidadão” e “cidadania”

A origem do termo “cidadão” remonta à Antiguidade Clássica e a uma forma de organização específica, que se difundiu no Mediterrâneo a partir do século IX a.C.: as cidades-Estados. Os “cidadãos” eram os membros da comunidade que detinham o privilégio de participar integralmente de todo o ciclo da vida cotidiana da cidade-Estado, ou seja, das decisões políticas das elaboração das regras, das festividades, dos rituais religiosos, da vida pública etc. Eram os únicos considerados indivíduos plenos e livres, com direitos e garantias sobre sua pessoa e seus bens. Existiam variações entre as cidades-Estados (Atenas, Esparta e Tebas, por exemplo), não havendo um princípio universal que definisse a condição de cidadão. Além disso, os critérios para integração ao corpo de cidadãos variaram ao longo do tempo, e as cidades se tornaram mais ou menos abertas ou fechadas dependendo da época. Porém, é possível indicar três grupos, entre o restante da população, que geralmente não integravam o conjunto dos cidadãos: 1) Os estrangeiros residentes que, embora participassem da vida econômica da cidade, não tinham direito à propriedade privada e não podiam participar das decisões políticas; 2) Populações submetidas ao controle militar da cidade-Estado após a conquista, como os periecos e hilotas; 3) os escravos, que realizavam todo e qualquer tipo de ofício, desde as atividades agrícolas às artesanais, e eram utilizados, sobretudo, nos serviços domésticos. Os escravos não tinham acesso à esfera pública ou a quaisquer direitos.
É importante observar que, na Grécia Clássica, as mulheres também ao tinham direito à participação política. No tocante às diferenças etárias, prevalecia a autoridade dos mais velhos sobre os mais jovens, uma vez que havia limites etários para os cargos mais importante e atribuições de poderes diferenciadas aos conselhos de anciãos.
A palavra cidadania deriva do latim civis (o ser humano livre), que gerou civitas (cidadania).
“Cidadania é uma abstração derivada da junção dos cidadãos e, para os romanos, cidadania, cidade e estado constituem um único conceito – e só pode haver esse coletivo se houver, antes, cidadãos.” (FUNARI, Pedro Paulo. A Cidadania entre os Romanos. In: PINSKY, Carla (Orgs.). História da Cidadania. São Paulo: Editora Contexto. 2008. p. 49)
isso significa que, para os romanos, a cidadania ainda não constituía o conjunto de idéias e valores a ser defendidos, tal como concebemos hoje, mas o próprio Estado romano. Em Roma, o direito à cidadania era baseado na noção de liberdade, então só podia ser concedido aos indivíduos que não se encontravam em situação de submissão ou sujeita a outra pessoa.
“Uma vez obtida, a cidadania romana trazia consigo privilégios legais e ficais importantes, pois permitia ao seu portador o direito e a obrigação de seguir as práticas legais do direito romano em contratos, testamentos, casamentos, direitos de propriedade e de guarda de indivíduos sob sua tutela (como as mulheres da família e parentes homens com menos de 25 anos).” FUNARI, Pedro Paulo. A Cidadania entre os Romanos. In: PINSKY, Carla (Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2008. p. 66
Desse modo, não eram considerados cidadãos os escravos e os chamados clientes, que deviam fidelidade ao seu patrono em troca de benefícios. Inicialmente, ser cidadão romano era um privilégio reservado apenas aos grandes proprietários rurais, que detinham o monopólio dos cargos públicos e religiosos e o acesso as posições mais importantes na hierarquia militar (patrícios).
A história de Roma se caracteriza por uma profunda luta pela ampliação dos direitos ligados à cidadania pelo resto da população livre (a chamada plebe), como a propriedade da terra conquistada, o fim da escravidão por dívidas, a ocupação de cargos públicos e o voto no Senado. Qual a importância de estudarmos a origem dos termos cidadão e cidadania e as concepções que os antigos gregos e romanos tinham acerca dessas condições? A importância é tomar a cidadania no mundo antigo como referência para compreendê-la no mundo moderno.
“[...] a imagem que faziam da cidade antiga, no entanto, era idealizada e falsa. A cidadania nos Estados nacionais contemporâneos é um fenômeno único na História. Não podemos falar de continuidade do mundo antigo, de repetição de uma experiência passada e nem mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo contemporâneo ao antigo. São mundos diferentes, com sociedades distintas, nas quais pertencimento, participação e direitos têm sentidos diversos.” GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-Estado na Antiguidade Clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla (Orgs.). História da Cidadania, São Paulo: Editora Contexto, 2008. p. 29.
O estudo da história e da vida cotidiana no mundo grego-romano, transmitidas por meio das obras clássicas que chegaram até nós, inspirou os primeiros pensadores que buscaram uma definição do que hoje entendemos por cidadania. Os elementos que mais se destacaram foram as ideias de democracia, de participação popular nas decisões sobre o destino da coletividade, de soberania do cidadão e de liberdade do individuo.

A cidadania moderna: direitos civis

Aqui vai a contribuição de cada um dos pensadores iluministas que ajudou na constituição de novas formas de pensar a relação entre súditos de uma nação e seus governantes: a) John Locke (1632-1704): defendia que todos os homens são iguais, independentes e governados pela razão. No estado natural, teriam como destino preservar a paz e a humanidade, evitando ferir os direitos dos outros, inclusive o direito à propriedade considerado por Locke um dos direitos naturais do homem. Para evitar que alguns tirassem vantagem para si próprios, ou para os amigos, entrando em conflito, os homens teriam abandonado o estado natural e criado um contrato social entre homens igualmente livres. b) Voltaire (1664-1778): defendia a liberdade de expressão, de associação e de opção religiosa, criticando o poder da Igreja Católica e sua interferência no sistema político. Foi um critico do Absolutismo e das instituições políticas da Monarquia, defendendo o livre comércio contra o controle do Estado na economia; c) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): defendia a liberdade como o bem supremo, entendida por ele como um direito e um dever do homem. Renunciar a liberdade é renunciar à própria humanidade. Para que o homem possa viver em sociedade, sem renunciar a liberdade, ou seja, obedecendo apenas a si mesmo e permanecendo livre, é estabelecido um contrato social em que a autoridade é a expressão da vontade geral, expressão de corpo moral coletivo dos cidadãos. Desse modo, o homem adquire liberdade obedecendo às leis que prescreve para si mesmo.
Essas ideias foram muito importantes para o desenvolvimento do que hoje entendemos por cidadania. A base para a concepção de cidadania é a noção de Direito. Mas que direitos são esses? Hoje falamos em direitos “civis”, “políticos”, “sociais” e “humanos”, mas a definição clara do que seria cada um deles e a quem seriam aplicados nem sempre foi definitivamente estabelecidos e ainda é fonte de intensos debates.
1. Direitos civis: dizem respeito à liberdade dos indivíduos e se baseiam na existência da justiça e das leis. Referem-se à garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de se manifestar, de se organizar, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso e não sofrer punição a não ser pela autoridade competente e de acordo com a legislação vigente.
2. Direitos políticos: Referem-se à participação do cidadão no governo da sociedade e consistem no direito de fazer manifestações políticas, de se organizar em partidos, sindicatos, movimentos sociais, associações, de votar e ser votado.
3. Direitos sociais: dizem respeito ao atendimento das necessidades básicas do ser humano, como alimentação, habitação, saúde, educação, trabalho, salário justo, aposentadoria, etc.
4. Direitos humanos: englobam todos os demais e expandem a dimensão dos direitos para uma perspectiva mais ampla, pois tratam dos direitos fundamentais da pessoa humana. Sem eles, o individuo não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver, de participar plenamente da vida. São eles: o direito à vida, à liberdade, à igualdade de direitos e oportunidades e o direito de ser reconhecido e tratado como pessoa, independentemente de sua nacionalidade, gênero, idade, origem social, cor da pele, etnia, faculdades físicas ou mentais, antecedentes criminais, doenças ou qualquer outra características.
Responder os exercícios da pagina 6 do caderno do aluno. Leitura da página 7 e exercício da página 8. Identificando as primeiras formulações de direitos civis e políticos.

A cidadania moderna: direitos políticos

Até a revolução francesa, a aristocracia, representadas pelas famílias que detinham grandes propriedades de terra e títulos de nobreza além dos membros que ocupavam os cargos mais altos da Igreja (alto clero), concentrava mais poder do que o restante da população. Após a revolução, a burguesia, representada pelos comerciantes, pequenos proprietários, profissionais liberais, entre outras categorias profissionais, começou a participar ativamente das decisões do Estado. Durante o século XIX, a luta pela ampliação do sufrágio masculino aos não-proprietários, juntamente com o movimento das mulheres pelo direito de votar e se emancipar, marcaram a história da conquista dos direitos políticos. Nessa etapa, estudaremos alguns desses movimentos. Verificaremos abaixo o processo de ampliação da participação do poder e os diferentes grupos sociais que o reivindicaram.
Ø Revoluções Inglesas de 1640 e 1688: assinalaram uma mudança nas relações de poder na sociedade e Estado ingleses, em que a classe burguesa conseguiu limitar o poder do rei com a criação da Monarquia Constitucional.A partir desse momento, o Parlamento passa a ter atuação decisiva no governo, tendo apoio das classes mercantis e industriais nos centros urbanos e no campo, dos pequenos proprietários rurais, da pequena nobreza e da população comum;
Ø Revolução Americana de 1776: estabeleceu a divisão de poderes, a eleição regular para presidente e uma Constituição baseada em princípios de liberdade. Formalmente, era a sociedade mais democrática da época, embora brancos pobres, mulheres e escravos negros não pudessem votar;
Ø Revolução Francesa de 1789: derrubou a Monarquia Absolutista, estabeleceu um governo de representação popular, promulgou uma Constituição que estendeu o direito de votar e ser votado aos cidadãos “ativos” (homens com mais de 21 anos, dotados de domicílio legal há um ano, que vivessem de sua renda ou produto do seu trabalho. Todos que preenchessem esses requisitos e tivessem mais de 25 anos eram elegíveis).
Um dos exemplos mais contundentes da história da luta pelos direitos políticos ocorreu, certamente, durante a Revolução Francesa.

A cidadania moderna: direitos sociais

A necessidade de garantir melhores condições de vida para a população tornou-se uma bandeira dos revolucionários franceses no final do século XVIII, quando as tensões sociais de séculos de Absolutismo, acirradas nos reinados de Luís XIV e Luís XV, irromperam de forma violenta contra o Estado.
Com o advento da Revolução Industrial e a formação da classe operaria nos centros urbanos, a luta da regulamentação das condições de trabalho teve início no século XIX e se perpetuou durante todo o século XX. Nesse período, é importante destacar dois movimentos chave para entendimento da ampliação de direitos de cidadania: a Primeira Revolução Industrial e a organização da classe operária na luta pelo direito de fazer greve, de se reunir em sindicatos e de regulamentar a jornada de trabalhos (direitos sociais). Agora analisem as imagens na página 10, leiam a página 11 e respondam o exercício.
O processo de construção da cidadania não se deu de uma hora para outra. Pelo contrario, foi algo lento, árduo e que envolveu muito esforço por parte dos grupos sociais que se empenharam em obtê-los. Tudo isso para entender que a luta por direitos é um processo ativo e que envolve a participação e o envolvimento de todos os cidadãos enquanto sujeitos sociais. O exemplo da página 12 refere-se a Inglaterra, palco da Primeira Revolução Industrial. Embora eventos como esses não tenham ocorrido somente da Grã-Bretanha, é importante observar que as conquistas dos trabalhadores ingleses tiveram intensa repercussão no continente europeu e influenciaram muitas das lutas operárias pelos direitos sociais durante todo o século XIX. Agora respondam as questões da página 13 e 14.

A cidadania moderna: direitos humanos

Após a Segunda Guerra Mundial, quando a realidade dos campos de extermínio do regime nazista se tornou pública e o mundo se defrontava com os chocantes resultados das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Inspirada na Declaração de Independência dos Estados Unidos e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França, ela se tornou um marco na defesa dos direitos humanos, abarcando em um único conjunto de princípios todos os direitos civis, sociais e políticos pelos quais as sociedades ocidentais vinham lutando desde o século XVIII.
Posteriormente, as ações em prol dos direitos humanos se desdobraram na criação da Anistia Internacional, em 1961, e se disseminaram nas décadas de 1980 e 1990, na atuação de milhares de ONGs e grupos comunitários que buscam defender as condições mínimas de sobrevivência dos povos nos mais diversos países. Agora no século XXI depois de quase 70 anos da existência dos direitos humanos verificamos que sem a garantia desses direitos, não é possível o exercício da cidadania.
Observe as imagens da página 14 e identifiquem os eventos históricos a que elas se referem. Depois leiam o texto Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seguida resolvam os exercícios 1 e 2 da página 17 e 18 e a pesquisa da página 18 e 19.
Para finalizar: responder a pagina 20 e 21, exercício 1, 2, 3 e 4.

O Homem Não É Uma Ilha - 1º Ano

Este texto é encaminhado para todos os 1ºs anos do Alfredo Cardoso, João Guidotti e Mello Ayres.

Ele faz parte da busca em perceber que o homem é um ser social.

Texto retirado do blog:
http://sociologiaeducacional.blogspot.com/2006/01/o-homem-no-uma-ilha.html


O HOMEM NÃO É UMA ILHA

O homem não é uma ilha. Ninguém vive só. A ação humana é uma ação coletiva. Não há um ser humano verdadeiramente solitário, ermitão ou Robinson Crusoé (Defoe) ou como vimos protagonizado por Tom Hanks, em O náufrago.
O homem é essencialmente sociável: sozinho não poderia vir ao mundo, não poderia crescer, não poderia educar-se; sozinho não poderia satisfazer suas necessidades mais elementares, nem realizar suas aspirações mais elevadas; ele somente pode obter isto em companhia dos outros.
Desde o aparecimento sobre a terra, encontramos sempre o homem vivendo em grupos sociais – a família, o clã, a tribo, a aldeia, a cidade, o Estado. A sociabilidade humana hoje tem um horizonte ilimitado, de nacional tornou-se internacional e assume proporções planetárias.
O comportamento humano é modelado na vida em sociedade de acordo com as relações entre as pessoas, que estabelecem as regras de conduta e os valores que norteiam a vida social, econômica e política.
Ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, e onde ela vai se situar. A língua que aprenderá, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo (ou quase tudo) enfim se acha codificado ou rotinizado.
O corpo humano é envolto em panos desde os primeiros dias de nossas vidas em nome de valores (sexuais, amorosos e estéticos). Veste-se, come-se, pensa-se, não como cada um gostaria de se vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o faz. Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede aparentemente sem saída.
Como só é possível a vida em sociedade, há o risco de perdermos a liberdade e de não sermos autênticos. A verdade é que o homem, ao mesmo tempo em que é um ser social, também é uma pessoa, isto é, tem uma individualidade que o distingue dos demais. Por este motivo, o homem move-se continuamente entre a contradição e sua resolução.
A sociedade é a condição da alienação e da liberdade. É a condição para o homem se perder, mas também de se encontrar.

Saboreiem bem o texto e respondam as questões!!!

O Povo Brasileiro - 2º Ano.

Para todos os 2ºs anos do Alfredo Cardoso, João Guidotti e Mello Ayres
Segue abaixo o Resumo que foi elaborado para trabalhar em sala com vocês.
É um resumo do texto encontrado no site:
O POVO BRASILEIRO (Resumo)

Ao longo da costa brasileira se defrontaram duas visões de mundo completamente opostas: a selvageria e a civilização. Concepções diferentes de mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Aos olhos dos europeus os indígenas pareciam belos seres inocentes, que não tinham noção do "pecado". Mas com um grande defeito: eram "vadios", não produziam nada que pudesse ter valor comercial. Serviam apenas para ser vendidos como escravos. Com a descoberta de que as matas estavam cheias de pau-brasil, o interesse mudou... Era preciso mão-de-obra para retirar a madeira.
A porta de entrada do branco na cultura indígena foi o "cunhadismo".
No ventre das mulheres indígenas começavam a surgir seres que não eram indígenas, meninas prenhadas pelos homens brancos – e meninos que sabiam que não eram índios... que não eram europeus. O europeu não aceitava como igual. O que era ? Era uma gente "ninguém ", era uma gente vazia. O que significavam eles do ponto de vista étnico ? Eles seriam a matéria com a qual se faria no futuro os brasileiros... No momento ficaram conhecidos como mamelucos.
"A expansão do domínio português terra adentro, na constituição do Brasil, é obra dos mamelucos...”
Em dez mil anos os índios aprenderam a viver na floresta tropical, identificaram 64 tipos de árvores frutíferas, domesticaram muitas plantas, essas que a gente usa: mandioca, milho, amendoim....
Há duas contribuições fundamentais nesse encontro: uma mestiçagem do corpo e uma mestiçagem da cultura. Os índios não tinham cárie dentária, nem gripe, nem tuberculose... Cada enfermidade dessas era uma espécie de guerra biológica, matou índios em quantidade...
Estima-se que eram cerca de 5 milhões de índios em 1500 e hoje menos que 270.000. Em 1500 existiam cerca de oitocentas etnias. Eram povos de diferentes culturas, que ocupavam vastos territórios de características geográficas distintas.
Era uma sociedade que, por ser mais pobre, era também mais igualitária.
Em suas andanças, os paulistas foram aumentando o tamanho do Brasil. Na esperança de encontrar minérios, eles buscavam no fundo das matas a única mercadoria que estava ao seu alcance: os indígenas. As bandeiras partiam de São Paulo levando mais de duas mil pessoas. Eram homens e mulheres, famílias inteiras de mestiços que iam fazendo roça de milho e feijão pelo caminho, fundando vilarejos, caçando e pescando pra comer.
"Minas foi o nó que atou o Brasil e fez dele uma coisa só." (Trecho do livro O Povo Brasileiro)
No final do século XVII, a descoberta de ouro pelos paulistas nas terras do interior mudou os rumos do Brasil Colônia. Em menos de dez anos, chegaram à região das Minas mais de 30 mil pessoas, vindas de todo o país. Atraídos pelo ouro, muitos acabaram se fixando no cruzamento das rotas de comércio e estabeleceram as primeiras povoações. Desse modo abriram caminho para a ocupação do interior do país.
O país prosperava graças ao trabalho escravo de três milhões de negros na busca do ouro e nos engenhos. O açúcar, no entanto, começava a sofrer concorrência das Antilhas.
A grande contribuição da cultura portuguesa aqui foi fazer o engenho de açúcar... movido por mão-de-obra escrava. Por isso, começaram a trazer milhões de escravos da África. O negócio maior do mercado mundial era a venda de açúcar para adoçar a boca do europeu e depois a remessa de ouro. Mas a despesa maior era comprar escravos. Os europeus sacanas iam à África e faziam grandes expedições de caça de negros que viviam ali uma vida como a dos índios aqui, com sua cultura, com sua língua, com seu modo... Metade morria na travessia, na brutalidade da chegada, de tristeza, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil.
E esses negros não podiam falar um com o outro, veja esse desafio como é tremendo. Eles vinham de povos diferentes. Então, o único modo de um negro falar com o outro era aprender a língua do capataz, que nunca quis ensinar português. Milagrosamente, genialmente esses negros aprenderam a falar português. Quem difundiu o português foi o negro, que se concentrou na área da costa de produção do açúcar e na área do ouro... Mas preste atenção: com os negros escravos vinham as molecas de 12 anos, bonitinhas. Uma moleca daquelas custava o preço de dois ou três escravos de trabalho. E os donos de escravos queriam muito comprar, e os capatazes também. Comprar uma moleca pra sacanagem. Mas essas molecas pariam filhos, e quem era o filho? Era como o filho da índia. Ele não era africano, visivelmente. Ele não era índio. Quem era ele ? Ele também era um "zé ninguém" procurando saber o que era. Ele só encontraria uma identidade no dia em que se definisse o que é o brasileiro.
A riqueza com que as igrejas foram construídas no período do ouro deixa transparecer a importância da religião católica na vida da colônia. Todos iam à missa: brancos, negros libertos, mulatos e escravos. Mas cada um freqüentava sua própria igreja, decorada a seu modo. Nos detalhes da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, o catolicismo é temperado com os símbolos religiosos africanos.
A mineração de ouro e diamante alterou profundamente o aspecto rural e desarticulado do país. Até então, os brasileiros viviam isolados uns dos outros devido às grandes distâncias. Mas a rede de intercâmbio comercial que começava a se formar entre as capitanias daria uma bela base econômica à unidade nacional. O sertão nordestino, que vivia da criação de gado, fornecia a carne e o couro. A sede do governo foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, devido à proximidade das Minas. E o Rio Grande do Sul acabou sendo incorporado ao país através do comércio de mulas.
Tiradentes foi esse herói nacional fantástico, um homem sábio, engenheiro que fez o serviço de águas do Rio de Janeiro, que fez o planejamento dos portos do Rio... e que conspirou na Europa, em Portugal e conspirou com os norte-americanos também. Era um intelectual que lia, conhecia a constituição americana e queria fazer uma república. Era respeitado pelos magistrados, pelos coronéis militares, pelos poetas, por aquele grupo atípico de Minas que quis criar uma República Brasileira, criar um Brasil e criar brasileiros, dando dignidade. Mas os portugueses abafaram isto tão bem que continuou soterrada a idéia de liberdade e de autonomia do Brasil...
São Paulo. A terceira cidade do mundo. Uma megalópole com doze milhões de habitantes. Esta cidade, fundada em 1554 é hoje o espelho do Brasil. Olhando com atenção seus bairros e sua gente é possível perceber todas as contradições do país. As grandes capitais são o retrato do crescimento desordenado das cidades brasileiras no século XX. Para se ter uma idéia, entre 1920 e 1960 a população urbana cresceu dez vezes.
Aqui nenhuma terra foi reservada para o povo que ia formando o Brasil. Nos Estados Unidos as pessoas iam para o Oeste (o que corresponderia no Brasil a Goiás, Mato Grosso). Elas iam porque sabiam que se construíssem uma casa, fizessem uma roça ganhavam o direito de demarcar uma fazenda de 30 hectares. Aqui isto nunca deu certo porque um pequeno grupo monopolizou a terra, obrigou o povo a sair das fazendas. Eles não dividiam e sim expulsavam. Não é que eles usem a terra. Eles não usam dez por cento da terra que existe, mas expulsaram. E essa gente que foi expulsa vem viver uma vida miserável na cidade.
Em 1850 as regras de acesso à propriedade rural mudaram. A simples ocupação e cultivo já não bastavam para garantir a posse. O registro obrigatório acaba expulsando da terra os menos favorecidos.
Em 1808, D. Joao VI largou aquela Portugal e veio para cá, abriu os portos e começou a organizar o país. Trouxe 18 mil pessoas. Essa trasladação trouxe pra cá toda uma classe dominante já feita, muitos deles com cursos universitários em Coimbra. É essa gente que organiza o país.
O Brasil só se tornou uma nação com a abolição da escravatura, que concedeu aos negros, ao menos no papel, a igualdade civil. Emancipados mas sem a terra que cultivaram por quase quatro séculos, os ex-escravos abandonaram as fazendas e logo descobriram que não podiam ficar em nenhum lugar. A terra tinha dono. Saindo de uma fazenda caíam em outra, de onde eram, também, fatalmente expulsos. Houve quem tivesse melhor sorte. É o caso de uma comunidade negra situada no litoral fluminense.
Hoje estas terras se valorizaram e a família, ameaçada de perder tudo, tenta provar que tem direito de permanecer onde nasceu. "Eu sempre falo isso: que se desse um lote aqui, de graça, para uma pessoa que morava na cidade, ela não aceitaria porque é um lugar difícil. Como é que o cara que nunca fez uma horta no lugar, nunca plantou sequer um pé de flor vai colocar três juizes porque ele é dono daquela terra? A escritura é muito fácil fazer... Essa terra é terra hereditária, terra que vem de lá de trás do tempo da escravidão." (Depoimento do Sr. Valentim)
A maior parte dos escravos concentrou-se na periferia das cidades, nos bairros africanos. Ali eles criaram uma cultura própria, feita de retalhos do que o povo africano guardou nos longos anos da escravidão.
O negro guardou sobretudo sua espiritualidade, sua religiosidade, seu sentido musical. É nessas áreas que ele dá grandes contribuições e ajuda o brasileiro a ser um povo singular. Quando chegam na cidade são capazes de fazer coisas, por exemplo, a cultura do Rio de Janeiro, a beleza do Carnaval carioca, que é uma criação negra, a maior festa da Terra!
No final do século XIX, a crise de desemprego que ocorreu na Europa trouxe para o Brasil sete milhões de imigrantes. Eles vinham para trabalhar nas plantações de café, o principal produto de exportação da época. Acabaram ocupando o lugar dos mestiços e escravos libertos, como mão-de-obra assalariada. Os europeus se fixaram principalmente em São Paulo e no sul do país, onde renovaram a vida local e promoveram o primeiro surto de industrialização do país.
Esse país já feito num certo momento recebe uma invasão branca... Veja a diferença. Os que foram para a Argentina caíram em cima do povo argentino, paraguaio e uruguaio que haviam feito seus países, que eram oitocentos mil, e disso saiu um povo europeizado. Aqui não, essa quantidade de gringos caiu em cima de quatorze milhões de brasileiros. Então foram absorvidos por nós. Encontraram um país feito, com um século de história, com cidades importantes. Deram, é claro, uma grande contribuição e continuam dando, mas muitos deles não conhecem nada e acham que deram o automóvel. Essa influência das matrizes índias, negras e européias foi descrita algumas vezes como uma democracia racial. Aqui não há nenhuma democracia racial.
"A distância social mais espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres aos ricos. A ela se soma a discriminação que pesa sobre índios, mulatos e negros. " (O Povo Brasileiro)
Nos anos 90, a separação entre classes ricas e pobres é quase tão grande quanto as que existem entre povos diferentes. E o Brasil destaca-se no mundo por sua péssima distribuição de renda.
É muito duro para um negro fazer carreira no Brasil. Eles são a parcela maior da camada mais pobre que tá lá, no fundo do fundo, e é a camada onde pesa mais o analfabetismo, a criminalidade, a enfermidade.
Os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia. Essa unidade não significa porém nenhuma uniformidade. O homem se adaptou ao meio ambiente e criou modos de vida diferentes. A urbanização contribuiu para uniformizar os brasileiros, sem eliminar suas diferenças. Fala-se em todo o país uma mesma língua, só diferenciada por sotaques regionais. Mais do que uma simples etnia, o Brasil é um povo nação, assentado num território próprio para nele viver seu destino.
COM A PALAVRA, O BRASILEIRO ... José Silva / José Rafael / Francisca / Francisco / Mara Anastácia
José Silva: "Ser brasileiro é ser artista." José Rafael: "Vamos aí, na batalha." Francisca: "Não dá nem pra rir, né ?" Francisco: "Brasileiro gosta de ter fé." Mara Anastácia: "É um pouquinho de sonho, né ?"
Mas foi essa gente nossa, feita da carne de índios, alma de índios, de negros, de mulatos, que fundou esse país. Esse "paisão" formidável. Invejável. A maior faixa de terra fértil do mundo, bombardeada pelo sol, pela energia do sol. É uma área imensa, preparada para lavouras imensas, produtoras de tudo, principalmente de energia. A Amazônia devia ser um país, porque é tão diferente. O nordeste, até a Bahia... outro país que é diferente. A Paulistânia e as Minas Gerais juntas são outra gente... O sul, outra gente... Esse povão que está por aí pronto pra se assumir como um povo em si e como um povo diferente, como um gênero humano novo dentro da Terra. É claro que eu tinha de fazer um livro sobre o Brasil que refletisse de certa forma isso. E vivi fazendo pesquisa, e vivi muito com negros, brasileiros, pioneiros de todo o lugar do Brasil. E li tudo que se falou do Brasil.
Boa Leitura a todos!
Perguntas:
1 - Exlique a frase do texto: "Há duas contribuições fundamentais nesse encontro: uma mestiçagem do corpo e uma mestiçagem da cultura."
2 - Com o auxílio da aula e do texto explique o trecho da música de Gabriel, O Pensador que diz:> "O Brasil aboliu a escravidão, mas o negro da senzala foi direto pra favela/ Virou um homem livre e foi pra prisão / E a tal da liberdade não entrou la na cela."
3 - Qual a diferença entre a política de distribuição de terras no Brasil e nos EUA citadas no texto?
4 - Por que olhando São Paulo (os bairros, as pessoas, etc.), vê-se as contradições e diversidades existentes no Brasil?

Bem Vindos a Terra do...

E ai galera..
bom.. este é o blog onde vocês vão encontrar alguns materiais da minha aula mais alguns textos para reflexão..
Orientação.
Eu dou aulas nas 3 séries do ensino médio e em 3 escolas diferentes. O que farei?

Escreverei sempre pra quais turmas está sendo enviado o texto. Porém, se não estiver nada escrito, apenas, todos os 2ºs anos, ou no caso de outras turmas, será texto que utilizarei com todas as turmas, de todas as escolas que dou aula da série referida.

Bom..

Gostaria de iniciar com a frase de um anarquista do século passado chamado Errico Malatesta...

"Nós já o repetimos: sem organização, livre ou imposta, não pode existir sociedade; sem organização consciente e desejada, não pode haver nem liberdade, nem garantia de que os interesses daqueles que vivem em sociedade sejam respeitados. E quem não se organiza, quem não procura a cooperação dos outros e não oferece a sua, em condições de reciprocidade e de solidariedade, põe-se necessariamente em estado de inferioridade e permanece uma engrenagem inconsciente no mecanismo social que outros acionam a seu modo, e em sua vantagem."

Pensem bem na frase.